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Da data-evento à reflexão íntima da relação com espaço urbano.
Cinco conferências em torno de Lisboa, do Regicídio e de uma eleição presidencial.
No seguimento do sucesso do I Curso de História do El Corte Inglês, que tão elevado interesse despertou, decidimos continuar a aventura por temas da nossa história contemporânea.
A nossa nova proposta propõe uma reflexão em torno de duas datas-eventos - o regicídio e a eleição presidencial de 1958, a de Humberto Delgado – e a cidade de Lisboa, local dos acontecimentos citados. Cinco sessões, entre Fevereiro e Junho, balizadas pelos eventos históricos, intercruzadas com estórias de personagens com vida na cidade.
A 1 de Fevereiro de 1908 de 2008 perfaz 100 anos que o Rei Dom Carlos e o Príncipe Dom Luis Filipe eram assassinados. Os regicidas, Manuel Buiça e Alfredo Costa, são também mortos no local. O evento, de grande significado, é determinante na definição da nossa contemporaneidade, assumindo-se como um passo decisivo para o findar do regime monárquico português. Os acontecimentos têm como pano de fundo o Tejo, e no Terreiro do Paço são centenas as testemunhas incógnitas que, incautas, a tudo assistem.
100 anos nos separam deste evento.
A 8 de Junho de 1958 o General Humberto Delgado confronta o regime autoritário português nas urnas. A sua intervenção num café da capital mobilizou o país semeou o pânico num regime já datado e uma expressão - «obviamente demito-o» - bastou para que o Estado Novo tremesse. A euforia inicial ainda possibilitou a apoteótica romaria à cidade do Porto; mas a rápida reacção do regime impediria inconvenientes repetições, nomeadamente a marcada para a cidade de Lisboa. A mensagem de esperança que invadiu o imaginário colectivo português, protagonizada pelo «General sem medo», obrigou o regime a cortar, novamente, a válvula da Liberdade, que por momentos expelira uma brisa de mudança. Essa Esperança esfumar-se-ia na fraude e na repressão que se seguirá.
Cinco conferências em torno de Lisboa, do Regicídio e de uma eleição presidencial.
No seguimento do sucesso do I Curso de História do El Corte Inglês, que tão elevado interesse despertou, decidimos continuar a aventura por temas da nossa história contemporânea.
A nossa nova proposta propõe uma reflexão em torno de duas datas-eventos - o regicídio e a eleição presidencial de 1958, a de Humberto Delgado – e a cidade de Lisboa, local dos acontecimentos citados. Cinco sessões, entre Fevereiro e Junho, balizadas pelos eventos históricos, intercruzadas com estórias de personagens com vida na cidade.
A 1 de Fevereiro de 1908 de 2008 perfaz 100 anos que o Rei Dom Carlos e o Príncipe Dom Luis Filipe eram assassinados. Os regicidas, Manuel Buiça e Alfredo Costa, são também mortos no local. O evento, de grande significado, é determinante na definição da nossa contemporaneidade, assumindo-se como um passo decisivo para o findar do regime monárquico português. Os acontecimentos têm como pano de fundo o Tejo, e no Terreiro do Paço são centenas as testemunhas incógnitas que, incautas, a tudo assistem.
100 anos nos separam deste evento.
A 8 de Junho de 1958 o General Humberto Delgado confronta o regime autoritário português nas urnas. A sua intervenção num café da capital mobilizou o país semeou o pânico num regime já datado e uma expressão - «obviamente demito-o» - bastou para que o Estado Novo tremesse. A euforia inicial ainda possibilitou a apoteótica romaria à cidade do Porto; mas a rápida reacção do regime impediria inconvenientes repetições, nomeadamente a marcada para a cidade de Lisboa. A mensagem de esperança que invadiu o imaginário colectivo português, protagonizada pelo «General sem medo», obrigou o regime a cortar, novamente, a válvula da Liberdade, que por momentos expelira uma brisa de mudança. Essa Esperança esfumar-se-ia na fraude e na repressão que se seguirá.
Só 50 anos nos separam deste evento.
É a cidade de Lisboa que vive estes acontecimentos. De forma intensa e emotiva. São muitos os olhos que registam estes factos. Os protagonismos hierarquizam-se. Transeuntes desprevenidos oferecem a moldura humana que pinta as ruas da História. Estrangeiros, estrangeirados, alfacinhas, lisboetas. Todos pululam nas ruas da cidade, vivendo e inscrevendo pedaços de memória nos cantos e recantos da capital. O Rei, Delgado, ou o assumido anónimo são apenas personagens de grau diferenciado na teatralidade de Lisboa; cidade de intensa atracção.
Muitos chegam sem nada. Muitos partem com o nada com que chegaram. Outros aqui ficam; aqui vivem; aqui fazem a sua história. Passam de incógnitos a conhecidos; de conhecidos a actores de destaque. E o que eram apenas estórias de quotidianos discretos são agora eventos noticiados. Que registo tem o impacto individual da Cidade nas vidas de quem atravessa este processo? Que reflexão é construída? Como se inscreve a cidade nas suas estórias?
Preparámos, para este novo caminho, um conjunto de sessões que reunirá um conjunto de convidados de prestígio, gente de intervenção, numa dinâmica onde a interligação entre a academia, a política, a cultura é intencional, num ambiente que se quer inter-geracional, enérgico, vivo e propício ao debate e à reflexão informada e construtiva.
No final desta experiência esperamos ter contribuído para uma renovada reflexão e interpretação de duas «datas-evento» da História Contemporânea Portuguesa; e de ter fornecido, através do olhar dos nossos convidados, visões alternativas, complementares, da Cidade de Lisboa; palco de tanta História e tantas Estórias.
E hoje propomos deambular pela Lisboa de Rui Tavares.
A escolha do Rui justifica-se na vontade de transferir para a fala, para a musicalidade das palavras, a generosidade da sua escrita e a cultura da sua intervenção. O Rui tem uma característica, entre outras, que o tornam na personagem ideal para iniciar as nossas viagens pela Capital: a curiosidade. Curiosidade informada e pertinente, entenda-se.
É o que se lê no seu Currículo, nos seus escritos, nos seus ensaios, nas suas intervenções. E Lisboa, Capital do Império, Cidade de tantos pecados e de tantas estórias, interessa-lhe sobremaneira.
Depois, o Rui alia a estas valências um conhecimento profundo sobre a vida da Cidade, pelo menos desde o século XVIII; e o relato que partilha da Lisboa pré - 1755 é, já hoje, um escrito essencial para compreendermos o que fomos e no que nos tornámos.
Convidei também o Rui porque, penso, partilha comigo o «daydreaming» que regularmente ocorre ao visitante informado e abstraído.
Muitas vezes me perdi a olhar as ainda visíveis marcas do Reviralho Republicano contra a Ditadura Militar, primeiro, e contra o Estado Novo, depois. [Ainda são bem visíveis as marcas de Fevereiro de 27 ou de Agosto de 31, quer nos buracos de balas da Praça do Brasil (actual Largo do Rato, à entrada para a Rua da Escola Politécnica) ou na reconstrução do Jardim de São Pedro de Alcântara, bombardeado do outro lado da Avenida da Liberdade].
Também vos admito que, durante muitos anos, sempre na noite de 24 de Abril, percorri as ruas da Revolução dos Cravos. Praça do Comércio - António Maria Cardoso - Largo do Carmo. E muitas vezes «invadi» o Quartel da GNR, procurando colocar-me no trilho que a História palmilhou, apresentando-me, já em pleno século XXI, como actor actuante nessa História onde tantos de vós se envolveram.
É, então, como se vivesse esses acontecimentos convosco. Como se tivesse em mim a memória de tantos, e ela a inscrevesse na minha pele, qual colorida tatuagem permanente. Através destas imagens, agora também minhas, transporto-me com facilidade no Tempo, aproveitando a semelhança do Espaço.
Ainda recentemente, em pesquisa para um outro projecto, sobre o assassinato de Sidónio Pais, fui à inauguração do túnel do Rossio. Como sabem, o então Presidente da República foi assassinado à entrada da Estação, quando ia apanhar comboio para o Norte (penso que ia para o Porto).
Percorrer, noventa anos mais tarde, as mesmas pedras e calçadas dos intervenientes de 1918 impressiona; especialmente se nos colocarmos, por simples curiosidade, a reviver esses acontecimentos no mesmo Espaço. É arrepiante.
Muitos de vós já devem ter essa sensação ao passar hoje pelas arcadas do Terreiro do Paço e imaginarem os acontecimentos brutais de há 100 anos. Decerto que já terão sofrido deste processo de «daydreaming» que referia, e com certeza que o local deste evento se tornou bem mais colorido e visual. Quantos não imaginam o cheiro dessa tarde de Fevereiro? O tumultuar colectivo? O relinchar dos cavalos em stress, ou os gritos das mulheres em pranto?
Quantos de vós não se lembram, ainda, das barricadas do Machado Santos na Rotunda em vésperas da Republica? Ou quantos de vós não se lembram mesmo do cheiro a diesel das Chaimites em esforço a subirem ao Carmo?
É basto o caleidoscópio de memórias, nossas e dos outros, vividas ou apropriadas, que a Cidade de Lisboa nos oferece. A palete de emoções decorrente pode ser activada em demasiadas esquinas, ruas ou palacetes. Requeremos, para que tal aconteça, apenas de informação e de imaginação. Depois… é só deixar acontecer! Podem então ver como passo muitos dos meus dias.
Viajo entre a Lisboa-Liberal, do Chiado, novecentista, e a Lisboa Estadonovista, da Avenida de Roma, ou de Alvalade. E viajo apenas por 150 anos. O Rui viaja por mais de 3 séculos…
Vamos ouvi-lo.
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1 comentário:
Desculpe a correcção, mas na altura do 25 de Abril a Chaimite ainda era a gasolina!
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